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De Terry Crews no churrasco ao “candidato que já estava preso”: Hélio de La Peña revela bastidores do Casseta & Planeta e fala sobre racismo, cotas e educação

  • Foto do escritor: Pedro Bohnenberger
    Pedro Bohnenberger
  • 20 de jul.
  • 4 min de leitura
Hélio de La Peña, um dos criadores do Casseta & Planeta. Foto: Divulgação
Hélio de La Peña, um dos criadores do Casseta & Planeta. Foto: Divulgação

No sétimo episódio do podcast Bohn de Papo, o humorista Hélio de La Peña revisitou momentos marcantes da carreira, compartilhou histórias de bastidores do Casseta & Planeta e falou abertamente sobre temas como educação, cotas raciais e o racismo estrutural no Brasil. Entre lembranças de personagens como Chicória Maria e a candidatura fictícia do Macaco Tião, Hélio revelou bastidores curiosos — como o dia em que convidou o ator Terry Crews para gravar uma esquete e acabou amigo do astro internacional.


Ao longo da entrevista, o humorista também refletiu sobre a importância da educação como ferramenta de transformação social e como suas próprias ideias evoluíram ao longo do tempo.


Da engenharia ao humor: a trajetória improvável


Nascido na Vila da Penha, subúrbio carioca, Hélio cresceu em uma família humilde e descobriu cedo o poder da educação. Graças ao esforço da mãe, conseguiu uma bolsa de estudos no tradicional Colégio São Bento, o que mudaria o rumo da sua história.

“Minha mãe era professora e me alfabetizou. Quando viu que o colégio estadual era muito fraco, procurou o São Bento. Ela explicou que não tinha grana, e o Dom Lourenço não só abriu as portas como me deu bolsa de estudos”, contou.

Foi na faculdade de engenharia, anos depois, que o humor apareceu como alternativa de vida. Com amigos, criou a Casseta Popular, um jornal satírico artesanal que ironizava a realidade da universidade e os próprios colegas do movimento estudantil. O projeto cresceu e acabou se unindo ao Planeta Diário, formando as bases do que seria um dos programas mais icônicos da televisão brasileira.

“O humor surgiu como uma brincadeira, mas virou profissão. Largamos a engenharia quando fomos contratados como redatores da TV Globo, primeiro no TV Pirata e depois criando o Casseta & Planeta”, lembrou.

Casseta & Planeta: o humor que saiu dos estúdios


Entre 1992 e 2010, o Casseta & Planeta se tornou referência no humor nacional. Com personagens irreverentes e quadros inesquecíveis, o grupo conquistou o público ao levar o humor das ruas para dentro da TV.

“O Casseta foi o primeiro programa que saiu dos estúdios e foi para as ruas, trazendo o humor popular para a televisão”, disse. “A gente viveu aquele momento de fim da ditadura e início da redemocratização. O país queria rir, precisava disso.”

Foi nesse ambiente que surgiram personagens como a repórter Chicória Maria — uma sátira à jornalista Glória Maria, que, segundo Hélio, encarava as paródias com bom humor.

“Na verdade, quem ficava chateado era quem ficava de fora. Ser parodiado por nós era sinal de sucesso”, contou.

A candidatura do Macaco Tião e o humor na política


Um dos momentos mais curiosos da história do grupo foi a candidatura fictícia do Macaco Tião à prefeitura do Rio de Janeiro, em 1988. A ideia, nascida como uma sátira à política brasileira, acabou ganhando vida própria.

“A gente lançou o Macaco Tião como candidato, com o lema ‘Vote no Macaco Tião, o candidato que já está preso’. Na época, o voto era escrito à mão, e muita gente escrevia o nome dele na cédula”, relembrou. “A lenda urbana diz que foi o terceiro mais votado. Não sabemos quantos votos ele teve, mas que a votação foi expressiva, foi.”

O episódio não ficou isolado. Anos depois, o grupo repetiu a estratégia com o personagem Seu Creysson, “candidato” à presidência da República, com direito a showmício para 15 mil pessoas em São Paulo.


Encontro com Terry Crews: do improviso ao churrasco em casa

Terry Crews participou de um episódio do Casseta & Planeta. Foto: TV Globo
Terry Crews participou de um episódio do Casseta & Planeta. Foto: TV Globo

Um dos relatos mais surpreendentes da entrevista foi a participação improvisada do ator Terry Crews no Casseta & Planeta. Segundo Hélio, o convite surgiu após um encontro casual em uma academia no Rio de Janeiro.

“Eu e o Beto Silva vimos o Terry malhando. Fomos falar com ele como fãs. De cara, perguntamos: ‘Topa gravar com a gente?’”, contou. Graças ao entusiasmo do produtor brasileiro do ator, Terry topou participar — sem cachê.

A história não parou aí. Depois da gravação, os dois acabaram desenvolvendo uma amizade.

“Um dia ele falou numa coletiva que ia no meu churrasco... e eu nem sabia. Acabei organizando um churrasco na minha casa. Ele trouxe a família, ficou amigo mesmo. Até hoje a gente troca mensagem.”

Educação como ferramenta de transformação

Hélio de la Peña mantém uma biblioteca no Morro da Babilônia, no Rio de Janeiro. Foto: Divulgação
Hélio de la Peña mantém uma biblioteca no Morro da Babilônia, no Rio de Janeiro. Foto: Divulgação

Se o humor abriu portas, foi a educação que pavimentou o caminho. Hélio destacou o papel decisivo dos estudos na própria história de vida — e como tenta devolver isso à sociedade. Hoje, o humorista administra duas bibliotecas comunitárias no Rio de Janeiro, promovendo acesso à leitura em comunidades do Caju e do Morro da Babilônia.


“A educação foi a minha alavanca. Por isso criei a palestra ‘Sem Educação, Não Tem Graça’ e estou investindo nas bibliotecas. Quero devolver um pouco do que recebi”, explicou.


Racismo e cotas: da exceção ao reconhecimento das barreiras


Ao longo da carreira, Hélio passou de vítima anônima do racismo estrutural a figura reconhecida nacionalmente. Mas não esquece os episódios difíceis:


“Quando você é só mais um preto, mandam pegar elevador de serviço, te dão dura. Já me acusaram de roubar uma senhora branca, e ela teve que me defender.”


Durante anos, o humorista acreditou que sua ascensão provava que o mérito individual bastava. Mas suas ideias mudaram:


“Eu fui uma exceção. Tive uma família unida, que valorizava a educação. Isso não é a realidade da maioria dos pretos no Brasil. As cotas raciais são necessárias. As sociais também, claro, mas a desigualdade racial precisa ser reconhecida.”


“A felicidade está nos momentos”


No encerramento da entrevista, Hélio respondeu à clássica pergunta: o que é a vida?


“A vida é uma trajetória. Tem momentos de alegria e de tristeza. A felicidade está em momentos pontuais e a gente precisa saboreá-los”, disse. Sobre o papel do humor, definiu:

“O humor serve para fazer rir, para aliviar dores e para botar o dedo na ferida, mostrando as mazelas do país de forma bem-humorada.”


🎧 Quer ouvir o papo completo? O episódio com Hélio de La Peña já está disponível nas principais plataformas de áudio. Procure Bohn de Papo ou siga @papobom nas redes sociais para assistir aos vídeos e conferir outros cortes dessa entrevista divertida e reflexiva.



 
 
 

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